A famosa casa branca da Avenida Paulista!

  • Avenida Paulista, 1811, São Paulo, SP

Josefina, Oscar e uma história de amor

Para entender o espírito da casa, das festas, dos almoços aos domingos e a alma alegre dos imigrantes que ajudaram a construir a história da cidade de São Paulo, é necessário voltar um pouco atrás no tempo até a história dos pais de Maria Estefano Hannud, Josefina e Oscar.

Os pais de Josefina eram Nicola Dinacci, de Nápoles, e Maria di Lucca, de Castellamare. O casal veio para o Brasil em 2 de dezembro de 1897. Nicola, que era ourives, abriu uma joalheria na Celso Garcia. Josefina tinha 7 anos de idade e viveram no país até 1909.

Oscar era sírio, veio de Homs aos 19 anos, e seus irmãos tinham uma loja de tecidos bem próxima à joalheria de Nicola. Oscar trabalhava como mascate. Maria di Lucca, que era professora, tinha pena deste rapaz que trabalhava tão duro, e começou a cozinhar seus almoços. Mais tarde, ensinou-o a ler e escrever em português.

As famílias eram vizinhas de parede, e Oscar e Josefina começaram a namorar através de bilhetinhos passados por um buraco que fizeram no muro.

Maria di Lucca adoeceu e a família teve que voltar para a Itália em 1909. Antes de partirem, Oscar comprou de Nicola um anel para Josefina, deu a ela e com lágrimas nos olhos avisou que dentro de 3 ou 4 meses iria para a Itália atrás dela. Durante este tempo escreveu várias cartas para sua “Signorina Brasiliana”.

Em 5 meses, Maria di Lucca faleceu e seu marido adoeceu em seguida. Logo após a morte de Maria di Lucca chegou Oscar, cumprindo a promessa que fez no Brasil.

No dia de sua partida, ainda no Brasil, a família de Oscar, pensando que ele estava indo para a Síria onde haviam lhe arrumado uma noiva, foi se despedir entregando encomendas e dinheiro para ele levar aos parentes. Foi quando ele avisou: “Eu não vou para a Síria, estou indo para Nápoles casar com a minha Josefina”.

E assim, ele aos 27, ela aos 20, casaram em Castellamare. Montaram uma loja de casemira (tecidos) chamada “Casa Americana” e tiveram sua primeira filha, Maria, em 1913. Nicola faleceria 11 meses depois da esposa, e, em 1913, quando Maria tinha 4 meses, Oscar e Josefina resolveram voltar ao Brasil.

Montaram uma loja no Bixiga, a “Vila de Paris”. Enquanto ele era responsável pelas compras, Josefina atendia freguesas, costurava e bordava. Ela ainda encontrava tempo para fazer pão italiano, com a ajuda da filha, para dar aos vizinhos. A família havia crescido, o casal teve mais 5 filhos: Clélia, Orlando, Iolanda, Lina e Alzira, abriram uma segunda loja.

Josefina Dinacci

Josefina Dinacci

Josefina e os filhos Orlando, Lina, Clélia, Iolanda e Maria

Josefina e os filhos Orlando, Lina, Clélia, Iolanda e Maria

Maria, Wagih e o casarão da Paulista

Maria se formou como pianista pelo Conservatório Dramático Musical, tendo como um de seus professores Mario de Andrade (História da Música e Estética Musical). Sempre ajudando sua mãe no trabalho, já nesta época sonhava em ter uma casa na famosa Avenida Paulista e, a despeito das troças de familiares e amigas, começou a guardar recortes de almanaques e revistas de como seria a casa dos seus sonhos.

Nas suas das idas com a mãe à rua 25 de Março para compra de tecidos e aviamentos conheceu o comerciante Wagih, que como seu pai Oscar, era sírio da cidade de Homs e também começou a vida no país como mascate, em 1923. Filho de Cocal e Nicola Hannud, Wagih teve a imediata simpatia da futura sogra que sempre aconselhava as filhas a se casarem com sírios, como ela. Começaram a namorar, se casaram em 1935.

O casal, Wagih e Maria, com os 3 primeiros filhos

O casal, Wagih e Maria, com os 3 primeiros filhos

Casamento de Maria e Wagih

Casamento de Maria e Wagih

Maria e Wagih foram morar numa casa no bairro do Paraíso onde viveram até 1949 e tiveram seus 4 filhos. Também quando morava no Paraiso, Maria teve que se naturalizar brasileira devido à II Guerra.

O projeto, segundo contava Maria, foi rabiscado por ela num papel. A empresa Sociedade Construtora de Guarulhos Ltda. foi contratada, a obra a cargo do arquiteto Alberto Barsuglia. Juntos, durante 5 meses elaboraram o projeto definitivo, que, segundo ela, ficou do jeito que havia imaginado. A construção levou 5 anos.

Sob a batuta de D. Maria, colocaram de pé anos de recortes de revistas e ideias que faziam parte dos sonhos da jovem desde seus tempos de Conservatório Dramático Municipal. Apesar do aparente amadorismo da empreitada, o projeto, rabiscado por ela num papel, tem uma concepção incrivelmente atual com seus espaços amplos e integrados e seu pé direito duplo iluminado por uma imensa claraboia.

Casal Maria e Wagih com os 4 filhos, em Santos

A escadaria da casa da Paulista

Maria e seus primeiros neto

Cinco gerações da família

Para a decoração, contrataram Mr. Ronald Upstone, decorador inglês, que criou os ambientes partindo da referência de uma foto de uma mesa francesa, entregue pela futura moradora, e que deu o tom a todos os ambientes. O piso, de mármore rosa, assim como o lustre de bacarat que enfeitava o hall principal foram importados, assim como os tecidos dos móveis, executados pelo Liceu de Artes e Ofícios (São Paulo) seguindo as especificações do Mr. Upstone.

A vida na casa era muito simples. Maria adorava cozinhar, e fazia questão de fazê-lo tantos nos fartos almoços de domingo quanto nas inúmeras festas que davam. Noivados de filhos, casamentos, aniversários e reveillons, onde o ponto alto era ver a famosa Corrida de São Silvestre, que na época era à meia-noite. A casa ficava lotada de uma gente alegre e festeira.

A casa tem muitas histórias para contar, mas talvez a mais curiosa tenha sido um assalto, nos anos 60, feito pelo famoso Ladrão da Luz Vermelha.
Maria contava com carinho como aprendeu a fazer o cabrito com seu pai. Era generosa e ensinava suas receitas a quem quisesse aprender. Os cardápios eram uma mistura deliciosa de pratos árabes e italianos, todos feitos por ela. Isto criou um hábito na família: entrar pela cozinha, pois era ali que ela ficava, na beira do fogão, fritando pizza napolitana, fazendo arroz sírio ou assando esfihas, cabrito, pão de linguiça e outras maravilhas inesquecíveis. Em volta da grande mesa, num hábito herdado do lado italiano, ficavam todos conversando e comendo desde a hora em que chegavam até a hora de ir embora, muitas vezes, tarde da noite.

A família cresceu, 5 gerações chegaram a frequentar a casa simultaneamente.

Com o passar dos anos a casa, com suas escadarias, começou a ficar difícil para o casal idoso. Nesta época receberam uma proposta de locação do Banco de Boston. Compraram um apartamento no Morro dos Ingleses, onde viveram até sua morte.

As aquarelas a seguir retratam os ambientes da mansão, elaboradas pelo Sr. Upstone.

Nesta época era muito comum dar nome aos ambientes da casa. Uma curiosidade: a sala dos anjos assim se chamava porque todos os móveis tinham anjinhos entalhados! D. Marla contava que no Liceu De Artes e Ofícios. enquanto não ficavam prontos, sempre sumia um ou outro.

Fotos

Hall principal e escadaria

Hall principal e escadaria

Sala dos anjos

Sala dos anjos

Sala de música

Sala de música

Quarto do menino

Quarto do menino

Quarto do menino 2

Quarto do menino 2

Quarto da menina

Quarto da menina

Quarto do casal

Quarto do casal

Detalhe do quarto do casal

Detalhe do quarto do casal